domingo, 24 de junho de 2012

Profissionais com perfil técnico são disputados pelo mercado


O advogado Carlos José Serinho, 33 anos, estava bem no emprego. O clima era harmonioso, o salário razoável e existiam efetivas oportunidades de crescimento na carreira. Por essas razões, recusou inúmeras propostas de emprego desde o início deste ano. Uma das consultas feitas pelos headhunters que o procuraram o fez mudar de ideia. Há três meses, depois de passar por um rigoroso processo seletivo, ele é coordenador fiscal da multinacional de rolamentos SKF, sediada em Cajamar. O que mais pesou na escolha? Aumento de salário em 15%, aspectos como a tradição e a solidez da empresa, presença dela no ranking das 150 melhores para se trabalhar e morar próximo do local de trabalho (20 minutos). 

Serinho não ilustra um caso isolado. Formado em Direito e em Ciências Contábeis, com pós-graduação em Direito Tributário e cursando MBA em Finanças, Controladoria e Auditoria pela Fundação Getulio Vargas (FGV), ele faz parte de um contingente de profissionais que pode se dar ao luxo de escolher o emprego por ter uma formação técnica consistente. “O mercado está carente de profissionais que conheçam legislação tributária e contabilidade. Por isso, nos últimos meses, meu telefone não parou de tocar”, comenta ele. 

De maneira geral, diz a hedhunter Renata Perrone, da De Bernt, o mercado de trabalho está aquecido. Entretanto, nos casos em que se exige formação técnica específica, a exemplo de engenharia, tecnologia da informação (TI), finanças e área fiscal, sobram vagas e faltam candidatos qualificados. O setor de construção civil é outro que sofre para contratar. “Os engenheiros civis que saem da faculdade são contratados imediatamente, com altos salários”, comenta Renata.

A experiência técnica de Audrien Margatto, analista financeira da Atos Tecnologia, favoreceu a recente mudança de emprego. Ela estava empregada em outra empresa quando foi convidada a participar de quatro processos seletivos. Aprovada em três, optou pela multinacional, “pelo prestígio internacional e maiores perspectivas de crescimento na carreira”.

Outra empresa de TI, a Algar Tecnologia, diante da dificuldade em preencher vagas, optou por aumentar os investimentos em treinamento de pessoal. Maria Aparecida Garcia, diretora de Talentos Humanos da empresa, conta que o processo seletivo de um profissional do ramo com elevado nível técnico tem um custo muito elevado. Por essa razão, é melhor recorrer aos funcionários. Os cursos de capacitação são uma saída interessante porque os colaboradores já conhecem a cultura, estão engajados etc.

Cautela e revisão das expectativas

Os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) corroboram o aquecimento do mercado de trabalho. A taxa de desemprego que, em abril ficou em 6%, é a menor para o mês desde 2002. Há analistas, entretanto, que recomendam cautela na análise dessas informações. Esse panorama de pujança destoa do cenário macroeconômico nacional. O Brasil crescerá menos e os economistas refazem suas previsões. Até mesmo o governo, que estava otimista no início do ano, anunciou a revisão para baixo da expectativa para o PIB.

Da parte do setor produtivo, as estatísticas confirmam o enfraquecimento da indústria brasileira. O IBGE constata mês a mês os números da retração. Em abril, a produção industrial teve queda de 0,2% na comparação com março, confirmando a terceira variação negativa mensal no ano. O crescimento do PIB no primeiro trimestre ficou em 0,2% em relação ao trimestre anterior. O governo, na tentativa de manter a economia aquecida, lançou diversas medidas para estimular o consumo e auxiliar o setor produtivo.

No momento, o mercado de trabalho permanece isolado e, pelo menos no curto prazo, não há previsão de que o ritmo mais lento da economia atingirá as empresas. “A indústria é apenas uma parte do todo e o setor de serviços continua empregando muito. Não vejo crise de emprego, é apenas um problema localizado no setor industrial”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. Para Vale, a crise europeia deve continuar sendo uma trava nos investimentos e as medidas do governo não devem surtir efeito porque não atacam o problema central da economia, que são custos elevados e falta de competitividade.

Na opinião de Simone Bernardino, assessora econômica da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo de (Fecomércio - SP), as medidas do governo têm caráter pontual e seletivo, agem somente como conta-gotas em setores específicos. “É preciso um programa mais articulado, com ações de políticas que deem sustentação para a economia manter o nível de crescimento e, principalmente, sustentar bons níveis de emprego e renda”, diz Simone.

Com a crise externa, os países crescendo menos pelo impacto do contexto mundial, não se pode garantir que o Brasil esteja imune a uma possível retração no mercado de trabalho. Se a situação no Brasil se agravar, o mercado de trabalho será afetado por último. “Mesmo que o brasileiro enfrente o desemprego, não será no mesmo nível dos países-foco da crise, cerca de 20%. O mercado interno brasileiro é forte e amortece os efeitos do menor ritmo no mercado de trabalho”, diz Celina Ramalho, professora da Fundação Getulio Vargas. Que assim seja!

Fonte: Canal Rh

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