terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ética e sucesso empresarial



Neste mês de outubro, a demissão do presidente da subsidiária brasileira de uma empresa alemã, por desvio de € 6,5 milhões, é mais um alerta de que estamos ingressando em um novo período. Um período em que a ética é que deve ser o direcionador dos negócios. Por mais utópico e incipiente que possa parecer esse momento, o mundo dá mostras de que o sucesso a qualquer preço está sob forte questionamento.
 Uma pessoa que não possui parâmetros éticos irá fazer o que for necessário para ter o que os outros dizem que é o sucesso. Se afirmam que, para ser considerado bem-sucedido, precisa de dinheiro, então fará tudo para tê-lo. Se dizem que precisa ter um carro importado, vai comprá-lo. E, se não possuir condições financeiras para isso, irá consegui-las, custe o que custar, inclusive sua reputação.
O presidente em questão, estava havia 31 anos na empresa, era funcionário desde 1976 e presidente desde 2001. Conhecido pelos excelentes resultados nos últimos anos, havia conseguido superar o desempenho de unidades da Índia e da China, e até foi considerado um potencial presidente de todo o grupo. Entretanto, obter resultados deveria ser considerado condição higiênica em uma organização, ou seja, tem de acontecer. Nenhuma empresa existe para dar prejuízo ou apenas para sobreviver. Todo líder empresarial deve ter como critério básico o crescimento constante da companhia. Embora essa tarefa seja extremamente difícil, não há mérito em realizá-la sem caráter.
A falta de ética de um líder pode se expressar de muitos modos: cometer um ilícito tão declarado quanto o desse presidente. Engenhar uma fraude financeira ao misturar títulos podres com outros de boa qualidade e vendê-los em conjunto como sendo de primeira linha. E dar classificação de “ótimos investimentos” a esses títulos, levando instituições ao engano de comprá-los.
Mas há outros desvios de conduta que se relacionam à forma como esses gerentes tratam seus funcionários. Dirigem-se a eles de modo desrespeitoso e cometem assédio moral.
Finalmente, mas não menos antiético, há aqueles líderes que desenvolvem práticas predatórias para mostrar resultados extraordinários. Criam em suas empresas uma cultura que, em vez de estabelecer relacionamentos de longo prazo com seus fornecedores, os levam ao desgaste e, por vezes, à falência. Fazem isso ao forçá-los a oferecer preços menores, prazos de pagamento estendidos e, ainda por cima, não os pagam na data combinada. Literalmente não se importam em matar um fornecedor, pois sabem que podem se esconder por trás de uma marca conhecida. Sabem também que outros aparecerão para fornecer o que precisam, pois não conhecem suas práticas abusivas. Há empresas que cumprimentam seus compradores e departamentos financeiros por atrasarem pagamentos sem incorrer em multas e juros. Danem-se os fornecedores. E os funcionários dos fornecedores, é claro.
O sucesso sem propósito, sem merecimento ou ética está por trás desses atos. Um indivíduo com baixo autodesenvolvimento não terá parâmetros em sua conduta. Como as empresas medem mais os resultados do que a forma como eles são obtidos, estão à mercê de líderes sem caráter, psicopatas ou simplesmente disfuncionais. Essas condutas estão por trás de grandes atrasos no desenvolvimento de países como o nosso. Também são responsáveis por crises como a que vimos em 2008, que se desdobra agora em caos na Europa e manifestações nos Estados Unidos. Diga-se de passagem, ainda vai piorar.
Felizmente, observa-se que foram as ações da empresa alemã e sua tolerância zero aos casos de contravenção de compliance que determinaram a queda de seu presidente na subsidiária brasileira. Um rígido programa de ações preventivas contra a corrupção em suas unidades permitiu a detecção e a posterior punição dele. Uma conduta exemplar e que, de forma incipiente, mas constante, está se tornando regra no mundo empresarial.
Particularmente, não aprecio líderes cuja imagem é excessivamente correta, mas que não são supervisionados. Líderes há muito tempo no cargo e com resultados expressivos também se tornam, em geral, acima de qualquer suspeita e por vezes estão fazendo coisas erradas. Presidentes que se saem muito bem diante de plateias também podem esconder uma conduta questionável no sigilo de uma sala de reunião.
Enfim, penso que as empresas são hábeis em criar processos para os níveis hierárquicos de baixo, mas muito condescendentes com as condutas de seus principais gestores.
A conclusão é que só o resultado financeiro não basta. Assim como para o indivíduo, o sucesso empresarial deve ser iluminado pela ética e por um propósito que seja relevante, marcante e inspirador.
Por Sílvio Celestino - Globo.com

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